Como tudo muda, e quando a moda pega........

Ainda não sou assim tão velho, mas por cá já contam uns anítos e uns calos que a vida me arranjou, tenho conhecido um pouco as modas e as vaidades deste povo tuga, então aqui vão elas:
No meu tempo de criança e por aí fora, estes tugas onde não lhes falta a vaidade, só a vaidade e nada mais, era desprezível comer-se sardinhas, as sardinhas era peixe de pobres e era peixe azul, cheirava a sardinha, que horror, hoje, inverteu-se a opinião, é fino, é luxo dizer-se assim, comi umas sardinhas, que maravilha, já são caras, o seu preço e tornou-se coisa de gente de "bem", gente de bem.........
O pão, o sagrado alimento, passava pela mesma opinião estúpida deste povo, o chamado pão escuro, era também uma aversão, era o pão dos pobres, e era o mais barato, o chamado pão de primeira, o pão branco, esse sim, era o pão que estes inteligentes e vaidosos apreciavam, era pão fino, hoje mudaram-se as opiniões também a cerca deste alimento, é fino o pão escuro, é o que melhor nos faz, é uma glória alguns dizerem que comi um casqueiro feito em forno de lenha, bem escurinho, que maravilha, também é mais caro o seu custo, no passado era bem mais barato, e assim os pobres o comiam, como as coisas mudam...........
O açúcar, o açúcar amarelo era o mais usado pela classe pobre deste país, era também em preço o mais barato, por isso, os pobres o podiam comprar, as Excelências ricas, comiam e temperavas as sua iguarias com o açúcar branco, era mais caro, era coisa de ricos, era açúcar pilé, hoje inverteu-se também a opinião, os ricos e expertos passaram a comer o açúcar amarelo, o açúcar dos pobres, como as coisas mudam..............
Sou de uma terra e nela tenho vivido, onde muitos se desprezavam de passar ou passear junto ao rio, onde só haviam pescadores, que horror, gente sem formação, gente que só cheira a peixe, mas era gente séria e trabalhadora, ao contrário dos muitos que se sentiam envergonhados de por lá passar ou passear, hoje é fino passear junto à zona ribeirinha, ver o rio, etc, apenas mudou o nome, zona ribeirinha, e não rio, como as coisas mudam..........
O vinho, o vinho era um tabu, todos bebiam, mas quase todos diziam que não, negavam o seu consumo, a preferência era o vinho branco, o tinto, o que hoje é o mais apreciado, era o vinho dos bêbados, dos homens das tabernas, os ilustres bebiam o branco, mesmo assim o tabu existia, hoje dão-se ao luxo de dizerem assim, comprei uma garrafa de tinto, que belo vinho, tinto? Sim, tinto, os médicos até aconselham, dizem que faz bem, já não é tabu nem coisa de gente bêbado, e até o seu preço triplicou em relação ao branco, como as coisas mudam...........
Os berbigões, era o marisco do pobre, comia-mos com papas, abertos na chapa, abertos ao natural, sei lá, até crus, os ricos e finos, esses passavam ao lado, que vergonha comer berbigão, isso faz mal, é comida de gente vil, de gente que não tem mais nada para comer, etc, diziam os expertos, hoje voltou também a ser uma iguaria apreciada pelos finos e ricos, já não causam diarreias, é fino dizer-se que comi uns berbigões assim ou assados, o seu preço já é preço para gente grão-fina, o pobre já não os adquire com a mesma facilidade, como as coisas mudam..........
A praia, a praia estava acessível a todos, os do litoral claro........, mas quem é que lá ia? Iam os pobres na parte da tarde, e nem todos, onde por lá faziam os seus piqueniques e bebiam o seus palhinhas de tinto e se refrescavam, vestidos eles de ceroulas, e elas de combinação, os ricos iam na parte da manhã, vestidos, elas de fatos de banho e toucas na cabeça, e eles de calção de banho, quando o bichinho da fome apertava comentavam e berravam, onde vamos almoçar hoje? A praia de tarde passava a ser frequentada por aqueles que se faziam acompanhar do palhinhas, onde no seu interior pairava o tintolas, aquele que hoje todos apreciam, como as coisa mudam...........
Tinha muito mais para dizer, mas termino dizendo assim, afinal que gente é esta? É gente de má qualidade, como eram os berbigões, o vinho tinto, o açúcar amarelo e o pão escuro feito em forno de lenha.

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