Esta crónica está totalmente de acordo com toda a minha opinião sobre Angola, e todo o seu aparelho ditatorial que domina um povo e uma economia baseada na exploração petrolífera, a qual tem enriquecido o clã do rei Eduardo, e todos os seus correligionários.
Assim não podia deixar de partilhar um excerto desta crónica que a acho bastante bem narrada.
Aqui vai: José Eduardo dos Santos controla grande parte das peças do tabuleiro
onde se joga a política angolana. Mas nem ele, que tem vindo a cimentar o
seu poder por formas “tão sábias, tão subtis e tão peritas que não
podem ser bem descritas”, como escreveu Sophia de Mello Breyner,
consegue dominar todas as variáveis. E a primeira que não controla é a
evolução do preço do petróleo. Em 2008, quando o MPLA venceu as eleições
legislativas com mais de 80 por cento dos votos e o país registava
taxas de crescimento médio de 17 por cento ao ano, tudo parecia correr
bem ao Presidente, sem contestação interna visível, depois da morte de
Jonas Savimbi em 2002 e do fim da guerra civil que se arrastava desde
1975, e com uma crescente complacência externa face aos múltiplos
negócios que a abertura e a pujança da economia angolana permitiam aos
investidores internacionais.
Nessa altura, as previsões para os preços do petróleo apontavam para
que continuaria a evoluir em alta, ao redor dos 100 dólares, mas que
poderia vir mesmo a atingir em não muitos anos os 200 dólares por
barril. Nenhum especialista previu que a revolução do shale oil
(petróleo de xisto) nos Estados Unidos da América traria de forma
dramática e rápida o barril para os 40 dólares como aconteceu em 2014,
oscilando agora na casa dos 60 dólares. O golpe foi tão rápido e
avassalador que o Orçamento do Estado de Angola para 2015, que estava
calculado na base de um barril a 81 dólares (que já representava uma
queda de 18 por cento face ao ano anterior), teve de ser revisto para os
40 dólares, provocando uma quebra estimada de 22 mil milhões de dólares
nas receitas previstas para este ano. Ora, como os rendimentos
petrolíferos representam 42 por cento do PIB, 90 por cento das
exportações e 75 por cento das receitas do Estado, percebe-se facilmente
o efeito devastador que esta quebra dos preços do crude provoca na
economia angolana, mas também na elite que vive na intimidade do palácio
presidencial.
“A situação de Angola alterou-se radicalmente por
causa da queda do preço do petróleo, mas o efeito mais nocivo é
político”, considera Xavier de Figueiredo. Para este especialista em
questões africanas, as receitas do petróleo são fundamentais para o
funcionamento do sistema em que assenta o regime político angolano,
nomeadamente, para garantir um conjunto de lealdades das elites
políticas, económicas e militares ao Presidente. Sem esses montantes — o
Banco Mundial estimou que 32 mil milhões de dólares provenientes das
exportações petrolíferas não entram nos canais legais, servindo
precisamente para manter estas elites satisfeitas, coniventes e
cúmplices do palácio presidencial —, a situação política complica-se
seriamente. “Muitas das lealdades de que depende o regime são
interesseiras”, diz, pelo que a quebra de receitas começa a colocá-las
em causa. Ler mais Aqui
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