Em 26 de Novembro de 2014
Há cinco dias fora do mundo, tomo agora consciência de que, como é
habitual, as imputações e as “circunstâncias” devidamente selecionadas
contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas
“fugas” de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas também
contra mim.
Não espero que os jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem
o crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e
os princípios do processo justo.
Por isso, será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo,
desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as
engendraram.
A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espetáculo
montado em torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas
são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em
prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.
Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder – de
prender e de libertar. Mas, em contrapartida, não raro a prepotência
atraiçoa o prepotente.
Defender-me-ei com as armas do Estado de Direito – são as únicas em
que acredito. Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática
que será resolvido.
Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e
sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e
amigos. Mas quero o que for político à margem deste debate. Este
processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido
Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a
Democracia.
Este processo só agora começou.
Évora, 26 de Novembro de 2014
José Sócrates
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