Trabalhar para aquecer


O "chairman" da Sonae, Belmiro de Azevedo aconselhou as empresas e os trabalhadores portugueses a apostar na "formação permanente", a não perderem os "comboios da inovação" e avisou que "trabalhar não mata, estar quieto é que provoca obesidade.

«Ó Snr. Belmiro, os livros que o Snr leu já muitos portugueses os leram, sabia? eu já li algures que em Portugal se trabalha para aquecer, e não é mentira nenhuma, quanto paga o Snr a um seu colaborador? quanto paga um empresário alemão ao mesmo colaborador em igualdade de categoria? responda lá, penso que três ou quatro vezes mais, será que com vencimentos de 500 euros o Snr pretende não ter trabalhadores mandriões e com obesidade? pois olhe que não, e depois fica se calhar todo surpreendido para não lhe dizer outra palavra quando ouve dizer que os trabalhadores quando emigram são dos melhores e por cá são os tais mandriões que o Snr fala, que surpresa.
Isto por cá é mesmo só para aquecer, enquanto no que toca à vossa parte é mesmo só para enriquecer, é mentira?
Ser-se empresário em Portugal não é tarefa fácil, mas ser-se empregado é ainda muito pior. Quanto à inovação eu pergunto o que é isso? será que por cá vale a pena essa tal inovação? depois de nos inovar-mos vamos fazer o quê? aqui certamente que muito pouco, veja-se o que tem acontecido a muitos trabalhadores em que a inovação existia, estão hoje no desemprego ou então foram para reforma antecipada, e fruto do quê? das más políticas e dos maus gestores que nós temos, veja lá se não é verdade.
A sua atividade principal é a distribuição alimentar, eu perguntava-lhe assim, e porque não o Snr investir em tecnologias de ponta, em criar uma industria tecnológica como muitos dos nossos amigos europeus, uma fábrica de automóveis, uma fábrica de PC,s, uma fábrica qualquer de altas tecnologias, porquê que não?
O Snr não faz esses investimentos é porque não é capaz, e nem tão pouco o país, é muito mais fácil instalar um super-mercado ou coisa parecida, é para o que servimos, e por isso não me venha com conversas moralistas de que o Snr é que é o bom e o resto são aquela coisa que muitas das vezes o Snr chama de mandriões, é verdade que os há, mas também há os muito bons e muitas das vezes estão desaproveitados e sem vontade de trabalhar, porque só para aquecer não vale a pena.
De grandes moralistas e de grandes profetas está o inferno cheio, eu gostava é que Portugal fosse um pouco parecido aos nossos amigos do centro europeu em que o que permanece por lá com abundância é a indústria, enquanto que por cá são os tais serviços e as grandes mercearias.»

Comentários