Um milagre?


O único milagre da capela sistina O cardeal brasileiro João de Aviz, que sobreviveu a um tiroteio em que ficou cravado de balas, revela como existe uma grande divisão dos cardeais no momento do voto. E explica "o ticket" do Vaticano

É o cardeal com mais cara de frade, sorriso largo e parecendo estar sempre disposto a erguer uma caneca. É também simples, estava lá quando Bento XVI anunciou que ia embora, coisa tão inédita que ninguém quis enganar-se e todos se mantiveram com cara de pau, mas ele bateu no ombro do cardeal ao lado: "O Papa está mesmo anunciando que renuncia?!" O brasileiro João Braz de Aviz, arcebispo de Brasília, 64 anos, nascido em Mafra, estado de Santa Catarina, talvez não seja dos mais "papabili", mas é talvez o único milagre que vai entrar amanhã na Capela Sistina. Em 1983, tinha 36 anos, foi sequestrado por dois assaltantes de uma carrinha de transportes de valores. Cercados, a polícia atirou e o então padre foi crivado de balas. Sobreviveu mas ainda tem vários projéteis alojadas no corpo.
No sábado, nas Congregações Gerais, o cardeal Aviz fez um discurso que lhe valeu aplausos e até houve colegas que se levantaram para lhe dar palmadinhas nas costas. Tinha falado, à sua maneira, entusiasmado, contra a incompetência da Cúria romana e os maus costumes do IOR, o chamado Banco do Vaticano. Nas nove sessões das Congregações Gerais (133 intervenções, na semana passada ), ele não foi o único a aludir aos escândalos do "Vatileaks" frente ao camerlengo, o cardeal Bertone, tido por principal responsável da Cúria. Mas, para lá das críticas, as palavras do arcebispo de Brasília permitem desmistificar uma das ideias sobre a eleição dos papas. De facto, a identidade nacional não é das principais razões para o voto dos cardeais: no discurso de sábado, o cardeal Aviz acabou por revelar que, pelo menos nas primeiras votações, não vai apoiar o seu compatriota, um dos dois nomes mais fortes, o cardeal Odilo Pedro Scherer, de São Paulo.

Comentários