Anunciar o início do fim da crise é uma das tentações de São Bento. Não
do santo, mas da residência oficial do primeiro--ministro. Mas, até
agora, nenhum executivo tem acertado na previsão. Esta semana foi a vez
de Passos Coelho querer ser o portador das boas notícias e anunciar que
“a inversão” da situação económica portuguesa, o fim da “recessão” ou a
“estabilização” da economia acontecem já em 2013. Optimismo ou realismo?
O ex-ministro das Finanças, Miguel Beleza, não tem dúvidas: “É um
bocadinho cedo para ter confiança numa recuperação em 2013.” Na visão do
economista, o primeiro-ministro está a ser mais “optimista do que
realista”, até porque, na verdade, pode não se tratar de uma inversão do
ciclo económico, mas do facto de Portugal não descer mais ao fundo do
poço: “Temos alguns dados que dizem que não há muito mais para descer,
mas a verdade é que, por exemplo, o desemprego continua a crescer.”
Rodeado de militantes na rentrée do PSD, na Festa do Pontal, Passos
pouco falou de desemprego. Mas foi no dia em que se conheceram números
nunca antes atingidos pelo país (15% de desempregados) que decidiu
inverter o discurso e passar uma mensagem mais optimista. Mesmo assim,
apesar de reforçar que a esperança para um “alívio das famílias” está ao
dobrar do ano, também deixou certo que até lá vai anunciar mais medidas
para garantir o equilíbrio orçamental prometido à troika, depois do
veto do Tribunal Constitucional ao corte dos subsídios de férias e de
Natal a funcionários públicos e pensionistas a partir de 2013.
Com a necessidade de mais medidas para alcançar os 3% de défice no
próximo ano, que terão influência no comportamento da economia, como
pode o país crescer já? “As previsões de viragem são muito difíceis de
fazer. Os comportamentos do exterior, como de Espanha, não ajudam.” Mas
para o primeiro-ministro, a confiança numa recuperação não é abalada
pelas “adversidades externas”. E o mesmo para o PSD. Ao i, o
coordenador dos sociais-democratas da Comissão de Orçamento e Finanças
no parlamento acredita que, em termos económicos, há “sinais de retoma” e
que Passos Coelho fez “um discurso realista” que “está de acordo com as
várias previsões para o ano de 2013” (ver páginas seguintes). Tudo isto
apesar das dificuldades nas contas públicas, que terão de conhecer uma
solução já na apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2013.
A esperança do PSD reside nas reformas estruturais, até porque mais
medidas de austeridade podiam deitar por terra o fim da recessão
anunciada por Passos. Por isso, acredita o deputado Duarte Pacheco, o
crescimento será “perto de zero. Lento, mas já em inversão”. Ou
“estabilização”, como lhe chamou o primeiro-ministro. Mas nem todo o PSD
está de acordo. O presidente do Governo Regional da Madeira diz-se
“mais pessimista” do que o primeiro-ministro. Alberto João Jardim
justificou: “Estas políticas que são impostas a Portugal não dependem
dele – estão erradas.”
Se as palavras do primeiro-ministro e líder do PSD se cumprirem, em
2013 a economia estabilizará e apresentará crescimento, ainda que
anémico. E isso dá motivos para sorrir? “O problema não é estabilizar.
Se a economia não crescer 3%, não temos solução para as contas
públicas”, diz ao i Medina Carreira. O ex--ministro das Finanças
acredita que o grande problema dos discursos dos políticos não se prende
com o optimismo ou falta dele, mas com o não explicarem aos portugueses
“como é que se chegou até aqui, como é que o país está e o que pode
acontecer”. Por isso, a resposta, no entender de Medina Carreira, é
simples: “Vivíamos com dinheiro que não era nosso. Quem nos emprestava,
já não empresta. Temos de viver pior.”
Fonte: iOnline
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